Por Irene Iglesias Álvarez
A digitalização está a conquistar o ambiente marítimo e surge como o melhor aliado para a preservação e promoção de medidas que possam gerar desenvolvimento económico nas zonas costeiras e melhorar a implementação de boas práticas. Neste contexto, a economia azul ou crescimento azul assume um papel importante, tendo em conta a necessidade de encontrar soluções sustentáveis que permitam preservar os recursos marinhos de forma responsável. Com este objetivo em mente, a Minsait, em conjunto com a Fundação Europeia para a Inovação e a Aplicação de Tecnologias (INTEC), apresentou o Relatório Economia Azul e Crescimento Azul 2023. Trata-se de um documento que inclui as tecnologias mais importantes para a preservação do ambiente marítimo, bem como as últimas tendências para promover a economia azul no Velho Continente.
O relatório destaca a importância de aproveitar o potencial económico dos oceanos e dos seus recursos, promovendo uma abordagem mais equilibrada e ambientalmente responsável para garantir a sua conservação a longo prazo e evitar a sobre-exploração. Para o efeito, promove uma gestão consciente das pescas, o turismo sustentável, a investigação científica e a inovação tecnológica. Isto é possível graças ao impulso e à utilização de tecnologias avançadas e da inteligência artificial (IA). Com efeito, tendo em vista o futuro imediato, são já visíveis tendências neste domínio, como o desenvolvimento de tecnologias marítimas avançadas, a economia circular no sector marítimo, as energias renováveis oceânicas, a digitalização e os grandes dados e o desenvolvimento do turismo sustentável.
No entanto, é de notar que a espinha dorsal da maioria destes avanços é a IA. É esta tecnologia que permite a monitorização e a gestão dos recursos marinhos através da recolha e análise de dados, facilitando uma melhor compreensão e gestão; a otimização das operações de aquicultura para melhorar a eficiência e o impacto ambiental; ou o desenvolvimento de tecnologias marinhas inteligentes, como robôs subaquáticos autónomos, sensores avançados e sistemas de comunicação.
Pesca sustentável e turismo de qualidade
Os oceanos cobrem mais de 70% da superfície do planeta, com uma grande diversidade de recursos naturais. Por conseguinte, um dos domínios fundamentais da economia azul é a pesca sustentável, em que é necessário incentivar modelos de gestão responsáveis que garantam a conservação das unidades populacionais de peixes e a sua reprodução, graças a medidas como quotas e tamanhos mínimos de captura ou zonas protegidas que permitam a recuperação de espécies ameaçadas.
O relatório sublinha o empenho na conservação de mares saudáveis e na utilização sustentável dos recursos marinhos, criando alternativas aos combustíveis fósseis e à produção alimentar tradicional. Insiste igualmente na consecução dos objetivos de neutralidade climática e poluição zero, nomeadamente através do desenvolvimento de energias marinhas renováveis, da descarbonização do transporte marítimo e da ecologização dos portos. Para tal, é necessário completar a transição para uma economia circular e reduzir a poluição, bem como preservar a biodiversidade e investir na natureza. Neste sentido, um dos objetivos prioritários do relatório é favorecer a adaptação às alterações climáticas e a resiliência das costas com os consequentes benefícios para o turismo e a economia.
Graças à implementação de medidas e ferramentas tecnológicas para alcançar uma pesca sustentável, como algoritmos de aprendizagem automática que identificam padrões de pesca ilegal ou a automatização de vários processos marítimos com IA, a recuperação de unidades populacionais afetadas pela sobrepesca poderia aumentar a produção em 16,5 milhões de toneladas, o que contribuiria para uma maior segurança alimentar e o bem-estar das comunidades costeiras. Como mostra o estudo, a economia azul representa 1,5% do PIB da UE, incluindo setores como o turismo costeiro e marítimo. Neste sentido, os ecossistemas marinhos saudáveis e bem preservados são atrativos para os turistas, o que também gera oportunidades para os destinos, proporcionando emprego e crescimento económico sem comprometer a integridade dos ecossistemas.