A CIN fundada em 1926, chega a liderança do seu setor em Portugal em 1992 e na Península Ibérica dois anos de pois. Atualmente a 11.ª maior fabricante europeia de tintas e vernizes conta com dez fábricas em Portugal, Espanha, França, Itália, Angola e Moçambique, e escritórios comerciais na Polónia, África do Sul e México. Mas é na sua sede na cidade da Maia que a CIN tem a sua principal unidade de investigação e desenvolvimento (I&D).
Conversámos com José Elias, CIO da CIN, sobre quais os principais projetos que tem em mãos em matéria de Transformação Digital, o que teve de mudar, em que áreas de inovação tema investido mais a empresa, e que que ferramentas e parceiros usaram na implementação de soluções de adoção cloud e outras tecnologias.
José Elias, dada a natureza industrial da empresa centrou esta primeira fase da nossa conversa no que designa por OT (Operational Tecnology): os principais projetos passam pela sua modernização e mitigação de pontos de falha num enquadramento global de cibersegurança que inclui o OT ao nível das preocupações de segurança que se têm com o IT, mas acima de tudo naquilo que alguma literatura apelida de “Smart Factories”. Este conceito inclui entre outros uma total sensorização dos equipamentos, com dados em tempo real, e a capacidade de agir sobre eles, através do 5G, IoT (Internet of Things) e Cloud e pela capacidade de Cloud Storage para o armazenamento das grandes quantidades de dados geradas e das necessidades de capacidade computacional requeridas.
No horizonte médio prazo, a exploração de Inteligência Artificial/ “Machine Learning” tem impactos em toda a linha, desde a melhoria generalizada dos processos (deteção de pequenas falhas, estrangulamentos nas linhas de produção e consequentes otimizações), do desenvolvimento de produtos (I&D) (compreensão dos dados de consumo e procura, detetar necessidades escondidas e desenvolver novos produtos com novas e mais sustentáveis Matérias-primas – biológicas e de base aquosa, além da automatização e digitalização de todas as tarefas diárias realizadas no laboratório – fabrico, caracterização, teste e controle de protótipos), do controlo de qualidade (previsão de anomalias, evitando que elas aconteçam antes mesmo de serem fabricados os produtos, utilização ótima dos equipamentos e a constante monitorização de indicadores/sensores críticos), e da robotização (permitindo-lhes que façam atividades de rotina potencialmente perigosas para os humanos).
Os principais parceiros são mais ditados pela experiência passada demonstrada neste tipo de projetos e conhecimento da nossa indústria e menos pela solução A ou B ou pela tecnologia que tende a ser cada vez mais comoditizada e existe para todos os gostos!
A CIN encara a Cloud como um meio e não um fim em si mesmo. “Algo que face a iniciativas concretas será equacionado como uma opção sem preconceitos nem predefinições. Temos e teremos sempre claro o benefício que tal aportará para o negócio e será isso que norteará a sua adopção/utilização mais abrangente. Estamos atentos aos vários Fornecedores de Serviço de Cloud (CSP), internacionais e nacionais, e obviamente procuramos olhar para este tema numa óptica de interoperabilidade, sem criar “amarras” a nenhum CSP. Neste momento temos na Cloud privada a solução de Recuperação de Desastre como um Serviço.”
Muito se tem falado na nova forma de trabalho pós covid qual é a posição da empresa e que ferramentas entendeu fundamentais para apetrechar os seus funcionários em regime de híbrido ou de teletrabalho?
Durante o período Covid e no pós-Covid a grande preocupação foi a de assegurar que a conectividade aos sistemas/aplicações da empresa, críticas para o negócio, acontecia de forma segura, daí o uso generalizado de Virtual Private Network (VPN).
Privilegiamos a utilização de computadores fixos ou portáteis, com a configuração e imagem standard da empresa em detrimento da utilização de dispositivos pessoais. Adicionalmente e ainda sobre equipamentos, dotámos os colaboradores de câmaras, bem como auscultadores, e em termos de software e além da solução VPN já referida, houve uma utilização de ferramentas colaborativas, prévia ao Covid (dada a natureza internacional do Grupo CIN), que teve uma evolução natural para uma adoção massiva deste tipo de ferramentas incluindo em função dos nossos parceiros de negócio, a título de exemplos o Teams, o Zoom e o Google Meet, entre outros.

Como enfrentaram as necessidades relativas ao e-commerce, o que mudou no que se refere à ligação com os retalhistas, e no caso da CIN de alguns lojistas no que se refere às tecnologias de gestão de ERP e logística?
Fruto de um elevado nível de integração entre o nosso ERP e os sistemas transacionais e informacionais que gravitam à sua volta, e uma grande automação e robotização existente nos nossos centros de Distribuição, bem como a existência desde sempre de B2B e B2C integrados com o mesmo ERP, fomos capazes de servir uma procura crescente nestes canais no período COVID que se mantém atualmente.
Esta integração do ERP alargada também à componente logística permite o controlo tempestivo da distribuição conseguindo não só manter a satisfação global dos nossos clientes como reforçar a nossa posição de liderança no mercado ibérico nos últimos 3 anos.
Qual a grande marca de inovação que a empresa tem para contribuir para o mercado como exemplo de boas práticas?
As nossas unidades fabris utilizam a última tecnologia em termos de equipamentos e sensorização que nos permitem a fabricação com aproveitamento gravitacional e com a mínima intervenção manual, a otimização de linhas de fabrico, a robotização de linhas de enchimento, ferramentas avançadas de sequenciação de Ordens de Fabrico (OF) para minimizar tempos de setup dos equipamentos, Overall Equipment Effectiveness (OEE), sem perda de flexibilidade e adaptabilidade. Estes fatores conduzem a uma elevada qualidade reconhecida em toda a nossa gama diversificada de produtos.
A inovação é uma parte do nosso ADN desde o início, pois só dessa forma nos permite assumir posições de liderança e/ou de destaque nos mercados onde operamos e, acima de tudo, fazê-lo de forma sustentada e continuada, com um crescimento do nosso negócio ano após ano, o que implica uma constante adaptação, uma grande abertura à mudança a todos os níveis na organização e uma forte aposta nas pessoas e no potenciar do seu talento.
Como estão a olhar para a Governança de Dados e o que estão a fazer relativamente à gestão dos mesmos?
Desde a entrada em vigor do RGPD (Regime Geral de Proteção de Dados) que cumprimos com o regulamento e asseguramos que os nossos parceiros de negócio e ou fornecedores de serviços, por exemplo de Tecnologia de Informação., e em particular aqueles com quem temos contratos de externalização de serviços, enquanto processadores dos nossos dados também o cumprem. Estamos particularmente atentos às recomendações emanadas da Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD) bem como da Comissão Nacional de Cibersegurança (CNCS), não só no sentido de perceber se estamos no bom caminho e alinhados com as boas práticas destas recomendações, mas também priorizar eventuais iniciativas que tenhamos de lançar nesta frente da proteção dos dados e na sua gestão e governo.
A nível de governação dos dados temos definidos e implementados os roles de Data Protection Officer (DPO) e Responsável de Cibersegurança da empresa. A título de exemplo, temos em activo nas várias geografias em que operamos uma política e prática de gestão documental que assenta fortemente na gestão de acesso e identidades em todos os nossos sistemas e aplicações. No âmbito da conclusão de um estado de maturidade de cibersegurança temos concluídas e/ou em curso algumas iniciativas de gestão de risco de cibersegurança e proteção de dados e networking que visam em linha com o NIST, identificar, proteger, detetar, responder e recuperar em caso de acidente de segurança e/ou cibersegurança que ponha em causa dados sensíveis e/ou de negócio. Razões que nos levaram a, para além da solução de Recuperação de Desastre, ter implementado uma solução de 3ª cópia imutável dos sistemas e aplicações críticas para o nosso negócio.
Igualmente relevante e porque sabemos que a proteção dos dados e a sua segurança e a dos sistemas e aplicações, passa em muito pela sensibilização e formação dos nossos colaboradores, temos em curso um programa de formação alargado de cibersegurança aplicados aos atuais e novos colaboradores.
Como têm enfrentado as questões de falta de talento em para implementar projetos TI? Tem conseguido fixar quadros importantes no desenvolvimento de novos projetos?
Dada a escassez de recursos, torna-se cada vez mais importante dar uma atenção redobrada e contínua ao desenvolvimento de competências de liderança e de gestão, valorizando as pessoas de todas as formas possíveis (indo muito para além de Compensação e Benefícios). Na CIN abraçamos temas de flexibilidade, envolvimento com a comunidade e promoção de uma cultura e práticas inclusivas.
Por outro lado, colocamos um enfoque particular no desenvolvimento de competências comportamentais/sociais que potenciem um interesse genuíno pela aprendizagem e melhoria contínua – que é também uma prioridade na gestão das nossas pessoas aos vários níveis na organização e que a título de exemplo leva à definição e implementação de um orçamento anual relevante para a formação.
Procuramos apoderar os seus colaboradores com tecnologias digitais e com as competências que eles precisam para delas tiraram total proveito, com forte enfoque em evolução das competências existentes e na recriação e adaptação para novas competências, tornando os seus trabalhos mais fáceis e muito mais interessantes!
Por último, potenciamos a forte ligação que desde sempre tivemos à Academia, sendo que esta proximidade se materializa em vários programas de estágio e/ou de campo de experimentação e estudo para o desenvolvimento de trabalhos práticos e de investigação no âmbito de teses de mestrado e doutoramento com valorização pessoal e profissional para os participantes e com enriquecimento mútuo da Academia e da CIN, sendo que por vezes alguns dos participantes acabam por vir a integrar o grupo CIN nas mais variadas áreas.
Qual o fator, e tecnologia que mais tem contribuído para a digitalização do vosso negócio?
Na CIN procuramos sempre desenvolver o que temos, complementando o nosso ERP e o seu ecossistema de I&D, Etiquetagem, Compras, Planeamento, Produção, Distribuição, Financeira e RH com as componentes da I4.0 (sensorização, tempo real, análise, modelação, prevenção, flexibilidade, sustentabilidade, etc.) que necessitamos orientadas, a casos concretos nas nossas áreas de negócios, quer para tintas líquidas quer para tintas em pó, alinhadas por uma estratégia clara de aportar benefícios para o negócio e não adicionar tecnologia sem relevância.
A utilização de todas as componentes funcionais do ERP, a sua integração com as principais ferramentas de I&D (formulação, prototipagem), etiquetagem, solução de robotização dos armazéns e controlo on-line de transportes, controlo ao momento dos stock de Matérias-primas, Produtos Intermédios ou Produtos Finais (MTS) que temos em cada armazém, em trânsito e/ou nas mais de 100 lojas em várias geografias, além dos reporting dos vários indicadores de negócios (KPI), são as tecnologias que mais contribuem para a digitalização do nosso negócio.
Além disto estamos igualmente a acelerar e a modernizar as soluções de Optical Character Recognition (OCR)/ Enterprise Data Management (EDM), que possuímos no sentido do “uso zero de papel”, além da digitalização dos documentos como guias de remessa, faturas que emitimos aos nossos parceiros de negócios e clientes finais e um crescente reforço de Electronic Data Interchange (EDI) com os nossos principais fornecedores.