Por M. Moreno em Róterdão
Com uma área de mais de 100 quilómetros quadrados e uma extensão de cerca de 45 quilómetros sobre a água, o Porto de Roterdão tem sido, desde há mais de 50 anos, o mais movimentado do mundo, atualmente apenas ultrapassado por alguns enclaves asiáticos. Localizada na segunda cidade holandesa mais importante em termos de população, pretende agora recuperar esta liderança, pelo menos em termos de inovação. Para este fim, a Cisco fez dele um dos principais pontos focais do seu programa de políticas públicas (Country Digital Acceleration), que tem 1.500 projetos em 48 países para todos os tipos de indústrias desde o seu lançamento em 2015, e para o qual a organização gasta cerca de 6 mil milhões de dólares por ano em I&D.
Este plano particular foi lançado em 2018 e dá à empresa a gestão digital de toda a sua rede juntamente com vários parceiros estratégicos, tal como explicado durante a visita aos escritórios – como parte do evento Cisco Live EMEA em Amesterdão – a partir do qual supervisionam a passagem de cerca de 100 navios por dia e cerca de 130.000 por ano. O objetivo é tão ambicioso que não se baseia apenas na gestão e ligação de todas as operações e bens do dia-a-dia numa chave tecnológica, ou na construção de um gémeo digital; mas também no acolhimento, até 2040, da passagem do primeiro navio autónomo ou na redução das emissões de CO2 em 95% até 2050. A sua magnitude é tal que, segundo a empresa, até 70% das suas infraestruturas são já invisíveis ao olho humano, cobrindo cerca de 350 quilómetros de fibras óticas. “É um exemplo de algo histórico que chega com tanta saúde num dia como hoje”, disse Guy Diedrich, vice-presidente sénior e chefe global de inovação da Cisco. “Mas a única forma de sustentar o seu crescimento e volume de atividade é através da digitalização.”
Os dados, como um barco a flutuar na água
Todos os dias, cerca de 350 empregados utilizam um modelo informático que reproduz o movimento dos navios, as condições meteorológicas, as condições da água e toda a sua infraestrutura. Em suma, explicou o gestor, que diz que a empresa já trabalhou com 32.000 empresas de transporte ao longo da sua história, é elaborado um plano individual de investimento e execução que, neste caso, envolve a gestão do porto a todos os níveis: logística, transporte, infraestruturas e espaço. Tudo com o objetivo, disse Oscar Van Veen, diretor de inovação do porto, de ser “extremamente eficiente, sustentável e seguro”. Nisto, entram em jogo tecnologias como a 5G, computação de ponta ou inteligência artificial (IA), indispensáveis para a tomada de decisões, e uma história de sucesso aplicável à transição ecológica.
O executivo jogou com o paralelismo que “tal como o navio flutua na água, o porto flutua nos dados”. Mas, continuou, a chave está na confiança. “Sem ela, não há dados, não há segurança e não há privacidade”. Neste sentido, e para além da sustentabilidade, a cibersegurança foi destacada como uma das principais conversas do evento. De facto, e no que diz respeito ao porto, já estão a ser postos em prática modelos quânticos de proteção e foi desenvolvido um teste piloto, chamado “Container 42”, que recolhe digitalmente todos os bens do contentor ao longo da sua viagem. Possui também tecnologia de abertura de identidade digital, que poderia mesmo ajudar a reduzir os níveis de contrabando.
Portbase como uma plataforma holística
Uma das ferramentas chave que faz de Roterdão um porto “tudo ligado” é Portbase. É um centro logístico com cobertura nacional – tem sido utilizado como sistema de comunicações desde 2002 – proporcionando uma troca de informação rápida e segura entre governos e empresas, e serviços de segurança em termos de gestão de identidade e acesso. Isto produz, nas palavras de Donald Baan, o diretor de desenvolvimento, marketing e vendas da plataforma, um efeito de confiança capaz de alimentar futuros projetos.
O Porto de Roterdão, em dados – Tem uma área de mais de 100 quilómetros quadrados e uma extensão de 45 quilómetros sobre o mar – Foi o porto mais movimentado do mundo de 1962 a 2004 – Cerca de 100 navios passam diariamente pelas suas águas – 70% das suas infraestruturas já são invisíveis ao olho humano. – Um dos seus objetivos é reduzir o volume de emissões de CO” em 95% até 2050. A Cisco, a empresa responsável pela digitalização do porto, tem um programa denominado Country Digital Acceleration que tem 1.500 projetos em 48 países de todo o mundo e atribui cerca de 6.000 milhões de dólares em I&D. |