
Por Andrea Cavallari, Lider de Solutions & Technology Practices Latam na Red Hat
A transformação digital é um dos temas mais importantes da atualidade que, há tempos, deixou de ser apenas uma iniciativa para aumentar eficiência, tornando-se requisito mandatório para negócios do futuro. De acordo com projeções do Gartner, os custos mundiais com TI para 2021 devem chegar aos 4,1 triliões de dólares, registando um aumento de 8,4% em relação a 2020.
Os altos investimentos são acompanhados por uma mudança de mentalidade, a chamada transformação cultural, fundamental para o avanço efetivo da adoção e da implementação de tecnologias emergentes. O mercado, aos poucos, vem percebendo que para ser digital é preciso, primeiro, ser humano.
O foco nas pessoas, muitas vezes relegado para segundo plano, é o caminho central para uma jornada de transformação digital eficaz. No processo de aprender, falhar e alcançar a mudança, reconhecendo a importância das pessoas, um fator chave é a liderança das equipas. O gestor é o grande responsável por dar a direção a equipa e ser um promotor da transformação: 90% dos líderes corporativos veem o digital como uma prioridade e como um verdadeiro desafio empresarial que requer a mudança de crenças, mentalidades e comportamentos.
Do lado dos colaboradores, os dados mostram que estes são 2,6 vezes mais propensos a ter maior destreza digital tendo a liderança como exemplo e modelo de comportamento. Ainda assim, apenas 17% das empresas contam com esse perfil de liderança de maneira consistente.
Desmistificando a jornada
De fato, por mais abertos que sejam para impulsionar a transformação digital, muitos gestores acabam por se deparar com grandes desafios, entre os quais tomar decisões em cenários de volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade. O acrónimo VUCA (Volatility, Uncertainty, Complexity e Ambiguity) reflete o cenário no qual não há previsibilidade, as mudanças são constantes e é extremamente complexo tomar decisões.
Diante de grandes mudanças nas organizações, e em situações adversas como a pandemia, é assim que os líderes se veem: consumidos pelo VUCA. Mas é possível minimizar o “caos” e seguir com o trabalho focado. Experimentar, testar novas metodologias, aprender e seguir incrementando a solução escolhida pouco a pouco são algumas das opções para criar uma equipa mais confiante, unido e com menor resistência às mudanças.
Alinhando expectativas
Num processo de transformação digital, os gestores enfrentam pressão e cobranças de resultados ambiciosos por parte da administração. São questões que envolvem desde as estratégias postas em prática até a velocidade com a qual as tarefas e avanços estão a ser executados. É importante que o líder seja transparente, honesto com a equipa e com os seus superiores sobre os riscos, o que é possível fazer e em quanto tempo. Tendo este alinhamento entre todos, fica mais fácil enfrentar os problemas e contar com o apoio para remover obstáculos.
Em momento de mudança, também é esperado que todos fiquem inseguros e cheios de dúvidas em relação ao futuro e aos próximos passos da empresa, o que pode gerar uma sobrecarga nos gestores. A dica para esta situação é criar uma cadência de reuniões nas quais todos possam discutir e compartilhar as suas opiniões, para que se sintam ouvidos e apoiados. Os encontros diretos entre colaborador e gestor são ótimas oportunidades para esclarecer possíveis dúvidas, mas pensando num movimento de escala, grupos de discussão com cadência frequente podem ser a melhor saída. Estes comités ajudam a manter a equipa em sintonia, e a dúvida compartilhada por um, pode ajudar no entendimento dos outros.
Definindo o foco
Diante de tantas atividades a realizar para promover a transformação digital nas empresas, os gestores necessitam estabelecer as iniciativas que realmente geram mais impacto para alcançar os objetivos, que são as grandes apostas. A implementação de tecnologias digitais pode ajudar a acelerar o progresso em direção às metas empresariais, como retorno financeiro, diversidade da força de trabalho e metas ambientais em 22%, como mostra estudo da Deloitte. Por isso é importante definir qual o caminho a seguir primeiro, traçando estratégias tangíveis e resultados possíveis.
É fundamental, no entanto, que essas metas sejam consensuais entre todos na empresa, da administração aos colaboradores. Assim, será mais simples liberar a agenda para manter o foco nas atividades que realmente importam. De nada adianta tentar executar mais do que a equipa é capaz de entregar, sob pena de ter as pessoas ainda mais reativas com a mudança ou desmotivadas por objetivos não realistas.
Partilhando resultados
A frase “não se consegue gerir o que não se consegue medir” é a definição perfeita para o processo de transformação digital. Nessa jornada, muitas são as métricas ou KPIs disponíveis para aferir a evolução, porém o melhor é definir uma quantidade pequena de indicadores que possam ser medidos desde o início – considerando que esse acompanhamento muitas vezes exigirá sistemas, colaboração com outras áreas, desenvolvimento de uma nova forma de coleta de dados etc., iniciativas que podem ser demoradas.
Comece pelo básico. Com as métricas na mão, é possível comunicar mesmo os pequenos resultados, e isso vai servir de motivação para que a equipa continue a querer evoluir, além de o gestor ir ajustando o plano e tome decisões mais assertivas. Ao longo do tempo, e com o amadurecimento da organização, métricas mais complexas podem ser adotadas, complementando os indicadores iniciais.
Reforçando a humanização
A transformação digital exige muito de todos os envolvidos, mas principalmente dos líderes. O gestor digital precisa conviver com o risco e ter elevada resiliência, já que a forma como este reage e aprende com os erros da organização é o que o diferencia perante a equipa. A este também cabe fomentar a criatividade e autonomia dos colaboradores, inspirando os seus liderados a ter um propósito claro, alinhado aos da companhia. Não é tarefa fácil.
Temos que lembrar que gestores de primeira linha também são pessoas e que, assim como os demais membros da empresa, possuem medos e inseguranças à frente desse processo. Para atravessar a transformação de forma positiva, é importante que os líderes também olhem para si mesmos, cuidando de sua saúde mental, emocional e mantendo um work life balance adequado. Caso contrário, podem entrar em estado de stresse constante, impactando o trabalho em equipa e gerando atritos desnecessários. Além disso, pode tomar decisões por impulso, trazendo a sensação de que está sem uma direção clara. Ou seja, para estar atento ao outro, é preciso estar também atento a si.
Transformação aberta e colaborativa
Um modelo de gestão que pode apoiar muito os líderes na jornada da transformação inclui as Open Management Practices, uma coleção de práticas de gestão aberta para auxiliar na liderança das equipes de forma aberta, transparente e colaborativa. Algo fundamental para lidar com a combinação de pessoas, escuta ativa, liderança humanizada e tecnologias emergentes em meio ao mundo VUCA.
Cada passo da transformação digital é também um avanço importante para a transformação da carreira e até mesmo da vida pessoal. Uma oportunidade única de crescimento e aprendizado. Apesar de a missão parecer difícil, vale a pena encarar os desafios com uma visão positiva, pensando primeiro no humano para, assim, aproveitar todo o potencial do digital.