Estudo Deloitte revela que líderes organizacionais consideram que disrupções como a pandemia vieram para ficar

A análise realizada revela que as organizações resilientes—organizações com mindsets e culturas flexíveis, adaptáveis, inovadoras e de longo-prazo – estão melhor posicionadas para superar disrupções e a repor a normalidade no pós-pandemia.

 A maioria dos líderes organizacionais acredita que  disrupções como a pandemia vieram para ficar, tendo 60% dos líderes globais do C-Level (CXO)  consultados pela Deloitte em todo o mundo considerado que, provavelmente, assistiremos a  mais fenómenos disruptivos. Em Portugal, cerca de metade dos líderes empresariais afirmaram  que, em 2020, o impacto da Covid-19 no volume de negócios da sua organização foi muito  negativo, com o investimento a ser também, de maneira geral, negativamente afetado. 

Estas são as principais conclusões do estudo conduzido pela Deloitte, que inquiriu os CEO das  maiores empresas dos setores de comércio, transportes, indústria, atividades financeiras e  seguros a operar em Portugal, bem como os líderes empresariais de mais de 21 países (dados  obtidos pela Deloitte Global), de modo a perceber como é que as organizações estão a lidar com  os desafios gerados pela pandemia e perceber quais as suas opiniões sobre como resistir a esta  perturbação. 

A análise realizada revela que as organizações resilientes—organizações com mindsets e culturas  flexíveis, adaptáveis, inovadoras e de longo-prazo – estão melhor posicionadas para superar  disrupções e a repor a normalidade no pós-pandemia.  

Apesar da maioria dos líderes admitir que as disrupções se podem tornar numa norma, menos  de um terço se sente totalmente confiante de que as suas organizações se podem adaptar  rapidamente e responder a ameaças futuras. 

Antes de 2020, apenas 24% dos CXO se sentiam completamente preparados para liderar  durante potenciais interrupções, e apenas 21% se sentiam completamente confiantes de que as  suas organizações se poderiam adaptar e mudar de rumo rapidamente, se necessário. Durante  a pandemia, esses números saltaram para 34% e 30%, respetivamente, indicando que os  acontecimentos de 2020 deram a alguns CXOs um impulso de confiança sobre a resiliência da sua organização e da sua própria capacidade para gerir este momento. 

No entanto, este número aponta para que 66% dos CXO não se sentem completamente prontos  para liderar em situações de disrupção e 70% que não têm total confiança na capacidade da sua  organização de se adaptar a eventos perturbadores. 

Os CXO referem, de forma perentória, que as perturbações de mercado não estão a  desaparecer. Aliás, três quartos dos participantes dizem acreditar que a crise climática é de  magnitude semelhante ou maior por comparação com a pandemia COVID-19. Os CXO classificaram as alterações climáticas como a principal questão que as empresas enfrentarão  durante a próxima década.  

A visão dos líderes portugueses 

Praticamente metade dos líderes portugueses afirmaram que, em 2020, o impacto do  Coronavírus no volume de negócios da sua organização foi muito negativo, anulando espaço  para o investimento que também foi negativamente afetado. No entanto, os gestores estão  relativamente otimistas quanto ao futuro: dentro de 3 meses, 53% dos inquiridos espera um  impacto neutro no volume de negócio e dentro de 12 meses, 53% dos respondentes espera um  aumento de 25%. 

Durante o ano de 2020, 60% dos executivos portugueses revela que a pandemia afetou  negativamente o número de colaboradores. No entanto, a visão sobre o seu desempenho não  foi afetada na mesma proporção. Aliás, 60% dos CEO considera que a pandemia afetou  positivamente ou não teve qualquer impacto na performance. Mas, em matéria de recrutamento  e gestão de pessoas, os gestores estão pessimistas quanto ao futuro. Nos próximos 3 meses,  cerca de 1/4 dos CEO prevê uma redução de 25% do número de colaboradores e dentro de 12  meses, espera-se uma situação agravada, com praticamente metade dos CEO a preverem uma  redução de 25% do seu número de colaboradores. 

Cinco atributos das organizações resilientes 

O estudo sugere ainda que as organizações que deliberadamente constroem os seguintes  atributos nas suas operações e culturas empresariais são as que estão mais bem posicionadas  para superar as perturbações do futuro e a ajudar a introduzir um “melhor normal”. Estes  atributos são:  

Preparação – Os CXO devem preparar-se para todos os resultados, tanto a curto como a longo  prazo. Mais de 85% dos CXO globais cujas organizações conseguiram equilibrar a abordagem  das prioridades a curto e longo prazo sentiram que tinham conseguido uma adaptação muito  eficaz face aos acontecimentos de 2020. Na perspetiva dos líderes portugueses, mais de 70%  afirmam que as suas organizações estiveram bem ou muito bem no equilíbrio entre as  necessidades de curto prazo e a gestão de oportunidades de crescimento no longo prazo.  Destaca-se ainda que 93% dos respondentes considera que a sua organização foi mais resiliente que os seus concorrentes na gestão da crise. 

Adaptação – Os líderes globais e portugueses reconhecem a crescente importância de ter  profissionais versáteis, especialmente após um ano como 2020. Para esse fim, a flexibilidade e  adaptabilidade foram os atributos que referiram como os mais críticos para o futuro. Os líderes  portugueses sublinham igualmente o pensamento crítico e a coragem para desafiar o status quo. 

Uma visão que não é partilhada a nível global, onde os líderes globais optam por destacar o  conhecimento tecnológico e a expertise como características críticas no âmbito do talento. No  survey global, cerca de três em cada quatro dos participantes afirmaram ter implementado  medidas para tornar a sua força de trabalho mais adaptável (tais como, a formação ou  requalificação, a implementação de programas de recolocação ou a oferta de modelos de  trabalho flexível). Em Portugal, os aspetos críticos continuam relacionados com o teletrabalho,  a manutenção da produtividade e a procura de soluções que permitam incutir a cultura e valores  da empresa neste contexto de distanciamento social.  

Colaboração – Os líderes empresariais referem como vital a importância da colaboração dentro  das suas organizações, fazendo notar que esta acelerou a tomada de decisões, mitigou o risco  e conduziu a mais inovação. A tecnologia foi um facilitador crítico na colaboração organizacional  durante toda a pandemia. Apenas 22% dos CXO globais afirmaram que as suas organizações  tinham as tecnologias necessárias para facilitar o trabalho remoto antes da pandemia; 42%  desenvolveram e adotaram estas tecnologias por necessidade, ao longo do ano de 2020. Em  Portugal, 80% dos CEO considera que a sua organização geriu bem ou muito bem a transição  de sistemas/ferramentas para a cloud de modo a suportar o teletrabalho e 60% dos gestores  portugueses considera crítico/ muito crítico o investimento nos próximos 12 meses em tecnologia  e sistemas de modo a conseguir suportar o teletrabalho.  

Confiança – O C-Level compreende o desafio de construir confiança com os seus principais  stakeholders, mas a maioria dos líderes portugueses e líderes globais afirma que a sua  organização se destacou na manutenção da segurança dos seus colaboradores e clientes, assim  como na motivação dos seus colaboradores. Mais de 2/3 consideram ter conseguido manter os  níveis de confiança entre a liderança e os colaboradores e cerca de 60% acredita ter fornecido  aos seus colaboradores recursos adequados com vista a promoção do seu bem-estar mental. 

Responsabilidade – A maioria dos CXO reconhece que o mundo dos negócios tem uma  responsabilidade que vai além do óbvio; 87% dos líderes globais afirmam ter conseguido  equilibrar bem ou muito bem todas as necessidades dos seus stakeholders e consideram mesmo  que as suas organizações poderiam adaptar-se e responder rapidamente a acontecimentos  inesperados. Por seu lado, cerca de 60% das organizações portuguesas consideram ter gerido  bem ou muito bem o contexto com o objetivo de criar uma cultura organizacional mais ágil,  inclusiva e diversa, um valor abaixo da avaliação das organizações a nível global. As  organizações que demonstram preocupar-se com a construção de um ambiente organizacional  mais resiliente tendem a ser consideradas mais autênticas, com níveis relevantes de valorização  do talento, suportando a comunidade e mostrando preocupação com os compromissos  ambientais e sociais. 

“Os desafios dos últimos doze meses têm sido únicos e implacáveis. A confluência de uma  pandemia sanitária global, agitação social e política, e o agravamento dos acontecimentos  climáticos tem apresentado às organizações escolhas difíceis, novas formas de operar, e  mudanças estratégicas fundamentais. E, neste âmbito, as organizações que planeiam e investem  na antecipação estarão certamente melhor posicionadas para prosperar no futuro, tanto em  Portugal como no mundo”, refere Miguel Eiras Antunes, Partner da Deloitte e Líder de Government & Public Services da Deloitte.

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